História ou militância?


"História ou militância?", questiona procuradora de Justiça Marta Leiria Leal Pacheco considera preocupante que aos alunos seja mostrada uma versão parcial.

Fiquei impressionada com a notícia de que o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da nossa UFRGS, nada menos do que a melhor universidade federal do país, já firmou posição no sentido de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff consistiu em um golpe.

Reparem no nome do curso de extensão, a ser oferecido a alunos de graduação e pós-graduação: O Golpe de 2016 e a Nova Onda Conservadora no Brasil. O título, salvo melhor juízo, denota que, mal encerrado o processo de impeachment, o instituto já tem posição firmada sobre o tema. Ora, se não há sequer um ponto de interrogação, mas sim uma afirmação peremptória, tudo leva a crer que não haja interesse em propiciar verdadeiro debate com a finalidade de estimular o exercício do espírito crítico, a ampliação da capacidade argumentativa, a análise de duas versões plausíveis para os mesmos fatos. E o que é gravíssimo: isso em pleno ambiente acadêmico! A posição institucional é clara: houve golpe. Ponto final. Quem discorda é despido de espírito crítico, tem a mente estreita. Trata-se do ultrapassado conservador.

Não sejamos ingênuos. As pessoas não são ideologicamente neutras, isso não existe.

Discriminar os ambientes é preciso. Não estamos falando daquelas conversas descontraídas entre familiares no almoço de domingo, dos bate-papos com os amigos na mesa do bar, de grupos de estudos entre alunos. Também não estamos falando das famigeradas redes sociais, espaço em que impera o vale-tudo, em que não raro nossos conhecidos, pessoas cordatas, ponderadas e educadas, nos surpreendem perdendo as estribeiras e o bom senso e xingando quem com elas não concorda. Também não se trata do direito consagrado na nossa Lei Maior consistente na liberdade de expressão ou do direito de emitir opinião pessoal.

Não sejamos ingênuos. As pessoas não são ideologicamente neutras, isso não existe. No entanto, é extremamente preocupante que aos alunos, em especial a jovens em formação, somente seja mostrada uma versão açodada e parcial dos fatos tão graves que culminaram com a medida extrema do afastamento da presidente. Ou que apenas um grupo de professores provavelmente alinhado ideologicamente, e menosprezando os que "ousam" divergir, discorra sobre o tema.

Se o instituto não tem perguntas, eu, como integrante do Ministério Público, e acostumada a analisar com imparcialidade as questões que me chegam para parecer, sempre preocupada com o contraditório, com a ampla defesa, e com a exposição de fundamentos consistentes, tenho várias. Aqui vão duas: convidaram professores de Direito Constitucional para falar sobre o assunto? Ou quem sabe "acham" que não existe, neste país, ordem jurídica e estado democrático de direito, tal como assegura a Constituição Federal?

Queria estar equivocada, mas parece caso de manifesta militância, se não político-partidária, no mínimo ideológica, grassando incólume na melhor universidade federal do Brasil. Quem tem amor ao verdadeiro significado da palavra filosofia, aos grandes debates acadêmicos e à liberdade de pensamento, como eu, está de luto.

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