Artigo, Astor Wartchow - O preço de uma ilusão

O preço de uma ilusão
Astor Wartchow
Advogado

A maioria dos povos admira e gosta das olimpíadas. Afinal, é uma extraordinária e pacífica reunião de pessoas e nações em torno dos esforços de superação das limitações físico-humanas.
Mas, gostar não basta como razão para uma nação sediar os jogos. À época da candidatura, e conseqüente escolha do Rio de Janeiro como sede, muitos brasileiros foram contra. Aliás, como acontecera nas demais cidades candidatas.
E por quê? Por causa do excesso de comprometimento de dinheiro público e o prenúncio de escândalos e corrupção, a exemplo do que ocorrera no Pan-Americano (Rio de Janeiro, 2007).
Recordemos. Cinco anos antes dos jogos do Pan, a União, o Estado e o município do Rio de Janeiro afirmaram que gastariam R$ 409 milhões na organização. Pois a conta alcançou R$ 3,7 bilhões. Um custo 800% maior que o previsto!
O Pan-Americano custou muito mais que qualquer outra edição dos jogos. Até hoje não há explicações e justificativas suficientes sobre a dimensão dos abusos, apesar de algumas ações dos Tribunais de Contas e das denúncias da imprensa.
Isso sem considerar as promessas não cumpridas à época, a exemplo de melhorias nos transportes - uma linha de metrô e um bonde até o aeroporto, uma nova linha de barca Barra da Tijuca-Centro e duplicação da via expressa à zona sul. E a despoluição da Baía de Guanabara e cinco lagoas da região.
Agora não foi diferente. Novamente promessas foram apresentadas e renovadas. Um novo sistema de transporte rápido interligando as regiões dos Jogos Olímpicos, a reforma da zona portuária e do aeroporto internacional, o aumento da oferta de acomodação, e, outra vez, a limpeza da baía e das lagoas da cidade. Algumas foram realizadas, outras não.
Para a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro as previsões de gastos dão conta de um total de 37 bilhões de reais, dos quais 25 bilhões serão provenientes dos cofres públicos.
Tanto relativamente às obras da Copa do Mundo de 2014 quanto em relação aos Jogos Olímpicos de 2016, os abusos, o descontrole e os escândalos serão uma conseqüência óbvia.
Fosse eu – cidadão, eleitor e contribuinte - consultado nas duas ocasiões, votaria contra. Nossa baixa auto-estima não será resolvida e superada com medalhas e recordes olímpicos, mas sim com investimentos em saúde, educação, habitação e segurança pública.

São razões pelas quais compreendi - na época das respectivas candidaturas e escolhas - os altos índices contrários dos cidadãos de Chicago, Tóquio e Madrid. E nem pobres são. Com certeza, sabem melhor do que nós o valor do dinheiro público! 

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