Editorial, Estadão - Rumo ao Natal, com cautela

O Natal já começa a aparecer na decoração das lojas, mas os primeiros indicadores do quarto trimestre, apesar de alguns sinais positivos, só permitem prever, por enquanto, um moderado aumento de consumo no fim de ano. As demissões diminuíram nas fábricas paulistas em outubro, quando foram fechados 6.500 postos, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O nível de emprego caiu 0,28% em relação ao mês anterior. Em agosto havia caído 0,5%. Em setembro, 0,98%, na série com ajuste sazonal. Com a pequena melhora no mês passado, a projeção de cortes em 2016 foi agora revista de 165 mil para, no máximo, 150 mil. Em 2015, foram eliminados 235 mil postos. Em 10 meses, 92 mil trabalhadores foram dispensados, bem menos que um ano antes, quando 164.500 foram para a rua. Mas o ponto de retorno ao crescimento continua fora do horizonte, segundo o diretor de pesquisas e estudos econômicos da entidade, Paulo Francini.
Os empresários, segundo as últimas pesquisas, continuam mais confiantes do que antes do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas sua disposição vem sendo minada pela persistência da crise. Depois de cinco meses de alta, o índice de confiança do empresário industrial diminuiu em outubro e novembro, de acordo com a sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em dois meses, o indicador caiu 2 pontos, até 51,7. Está de novo bem próximo da linha divisória, correspondente a 50 pontos, entre o pessimismo e o otimismo. Um ano antes estava em 36,4 e a melhora é indiscutível, mas ainda insuficiente para abrir uma nova fase de dinamismo.
Outro dado positivo, pelo menos à primeira vista, foi o aumento mensal de 2,3% na produção de veículos, em outubro, quando as montadoras fabricaram 174.150 unidades. Mas esse número foi menor que o de qualquer dos quatro meses de maio a agosto. Com um pouco menos de otimismo, pode-se descrever esse resultado mais como um repique do que como um crescimento de fato. No ano, o total produzido ainda foi 17,7% menor que o dos 10 meses correspondentes de 2015.
Serão necessários mais dados positivos para confirmar uma efetiva melhora do quadro no quarto trimestre. No terceiro, segundo os levantamentos e estimativas publicados até agora, a recessão continuou. No período entre julho e setembro, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao do segundo trimestre ficou no intervalo de 0,21% a 1,14%, de acordo com 24 projeções coletadas pelo Broadcast, serviço da Agência Estado.
A mediana dessas projeções (-0,8%) é muito parecida com a queda de 0,78% apontada pelo Banco Central em seu índice de nível de atividade econômica (IBC-Br), publicado na quinta-feira passada.
No dia seguinte, a Fundação Getúlio Vargas divulgou a nova edição de seu Monitor do PIB, revisto mensalmente. Pela nova estimativa, a economia brasileira produziu no terceiro trimestre 0,99% menos que no segundo. Os mesmos cálculos apontaram uma queda acumulada de 4,2% nos 12 meses até setembro.
Nesse quadro, a maior parte dos dados permaneceu negativa, tanto na oferta quanto na demanda. No cenário apresentado, a economia também continuou perdendo musculatura: no terceiro trimestre, a formação bruta de capital fixo, isto é, o investimento em máquinas, equipamentos e obras, foi 11% menor que no período de julho a setembro de 2015. Não há surpresa nem se deve esperar, em pouco tempo, maior disposição de investir, pelo menos no setor privado. Formação de capital fixo, nos próximos meses, só ocorrerá, de forma significativa, se for em obras de infraestrutura, dependentes dos planos oficiais.

Os dados oficiais do PIB no terceiro trimestre devem sair no fim do mês. Nada justifica, até agora, a expectativa de números muito melhores do que aqueles apresentados na série do IBC-Br e nas projeções de economistas do setor privado e da academia. Pode haver apostas mais otimistas para 2017, mas será preciso, nesse caso, apostar também na força política do Executivo.

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